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Livro compila o design de Percival Lafer 

Percival Lafer (Acervo pessoal Percival
Capa livro Percival Lafer (Editora Olhar

Fotos Acervo Pessoal

   A partir de dezenas de linhas de móveis, além de equipamentos urbanos, projetos de arquitetura e do icônico carro esportivo MP Lafer, a obra desvenda o raciocínio criativo de um dos designers industriais com atuação mais importante e longeva no país.

 

   À frente da Lafer com os irmãos desde 1961, e ainda em atividade, aos 82 anos, Percival tem um percurso único no que tange a relação entre design, indústria e mercado no Brasil. Desde o início de sua atuação, quando o mobiliário moderno estava em seu ápice criativo, quis estabelecer uma produção em escala e com preços acessíveis. Essa visão o fez se envolver profundamente nas questões fabris, das estratégias produtivas à otimização de recursos e processos, e buscar de forma contínua percepções sobre as demandas do consumidor final de seus produtos. Com texto crítico de Jayme Vargas e mais de 300 imagens, o livro apresenta um recorte extenso e representativo do design de Percival. O livro conta também com prefácio de Mina Warchavchik Hugerth, reproduzido abaixo.

   O lançamento do livro, seguido de bate-papo com o autor, Jaime Vargas, será no Baretto, Hotel Fasano, que possui uma coleção de móveis vintage assinados por Percival Lafer. 

 

Lançamento

13 de marco, das 19h às 22h

19h30 - Bate-papo com o autor Jayme Vargas

Hotel Fasano - Baretto

Rua São Paulo, 2320, Lourdes, Belo Horizonte/MG

Realização: Dudu Prates

Apoio:

Pé Palito, Gabinete de Curiosidades, Modernos Eternos

 

Contato para marcação de entrevistas:
Dudu Prates: (31) 99664-1932

 

Realização: Dudu Prates

Mestre em Moda Cultura e Arte, Dudu Prates é pesquisador no Mumo – Museu da Moda em BH – estuda e coleciona móveis modernos brasileiros e á colaborador da Mostra Modernos Eternos.

 

   A articulação entre design, produção industrial e circunstâncias de mercado foi uma premissa da produção de Percival desde seu primeiro projeto, a poltrona MP-1. Alguns procedimentos adotados por ele com frequência ajudam a compreender a forma como elabora seus projetos. Entre eles, o reaproveitamento de componentes já em produção para o desenvolvimento de novos modelos de mobiliário; a assimilação constante de novas tecnologias, como a injeção a frio de espuma e a fibra de vidro; e a adaptação dos projetos para otimizar suas embalagens e todo o processo logístico. Essa estratégia, em especial, beneficiou em grande medida as exportações da Lafer, que chegou a ter 35 lojas franquiadas espalhadas pelos EUA vendendo exclusivamente seus produtos.

   A inquietação criativa é um aspecto central na trajetória de Percival Lafer, subjacente a toda a sua atividade, dos projetos de produtos e processos industriais até suas decisões empresariais e reações às mudanças nas circunstâncias econômicas e de mercado. Assim, de móveis que se tornaram icônicos na casa dos brasileiros, pela qualidade do projeto mas também pelo volume de exemplares, ele passou a produzir equipamentos urbanos e até um automóvel esportivo, o MP Lafer.

   “A produção industrial e a busca por uma ampla faixa de consumidores para seus projetos caracterizaram o trabalho de Percival Lafer, desde o início da sua trajetória profissional, e o levaram a um compromisso constante com a questão da racionalização dos recursos produtivos. Assim, temas como a padronização de componentes, o reaproveitamento de materiais e o desdobramento das linhas de produtos se tornaram recorrentes em sua atuação”, conclui Jayme Vargas, autor do livro.

   Nos anos 1970, o mobiliário residencial criado por Percival se afastou progressivamente das características formais da linguagem modernista, ganhando maior densidade de formas e volumes e desenho mais elaborado, e os móveis articulados dominaram a produção da empresa a partir da década de 1980, determinando “o eixo central da trajetória de Percival como designer e um fio condutor para seu pensamento técnico”, segundo Jayme. Essas novas linhas passaram a incorporar continuamente aperfeiçoamentos técnicos, tornando-se ao longo do tempo mais complexas e acumulando funções.

Jaime Vargas

Historiador e colecionador, autor do livro “Desenho da utopia” (Olhares, 2016) e curador de exposições sobre o mobiliário moderno brasileiro.

 

Percival Lafer – design, indústria e mercado

ISBN 978-85-62114-84-7

Autor: Jayme Vargas

204 p / 21,5x25,5cm / Capa dura / Edição bilíngue

R$ 140

 

Prefácio de Mina Warchavchik Hugerth

   O design brasileiro vive historicamente uma condição paradoxal, sendo simultaneamente celebrado e ostracizado. Algumas poucas iniciativas foram canonizadas e celebradas, muitas ainda no tempo de sua criação, enquanto tantas outras foram tomadas como empreitadas puramente comerciais e relegadas a poucas linhas, se muito, na produção crítica. 

Essa situação começou a se modificar em ritmo crescente nas últimas décadas a partir de uma série de publicações dispostas a reexaminar o design brasileiro, ampliando significativamente o que se entende por uma produção com identidade nacional. Nesse esforço, não se pode deixar de mencionar o trabalho dedicado da Editora Olhares, viabilizando a inclusão de importantes nomes à historiografia brasileira do design e tornando-a mais colorida e múltipla. Agora, soma-se a esse rol Percival Lafer, apresentado aqui de maneira generosa. 

   A Móveis Lafer, onde Percival desenhou uma vasta quantidade de produtos, tem um papel significativo no desenvolvimento do móvel no país desde a segunda metade do século XX, tanto por suas inovações técnicas e formais quanto por seu posicionamento no mercado nacional e internacional, além da significativa longevidade e da capacidade de adaptação a cenários políticos e econômicos díspares. É revelada uma empresa que desafia a compreensão habitual na qual se organiza o estudo do design, pois, em vez de seguir a linha do gênio solitário, é preciso antes estudar sua estruturação empresarial e industrial e o trabalho colaborativo do empreendimento.

   Fica claro que dentre as características mais marcantes nos móveis da Lafer está a sua mecânica, a articulação entre componentes, que é intrínseca a muitos de seus produtos e que de alguma forma parece mimetizar a bem-sucedida articulação na empresa entre o desenho, a fabricação e o comércio. A padronização de elementos permitiu seu reaproveitamento em produtos diversos e o desdobramento de móveis em linhas, assim como a industrialização da produção, amplificada ainda pela pesquisa de novas tecnologias e novos materiais. A prática de patentear os móveis denota a percepção da empresa em relação à qualidade e à singularidade do que foi produzido, e essa confiança foi indubitavelmente fator relevante na decisão por levar seus móveis para os mercados da Europa e da América do Norte. Nesse quesito, a Lafer colocou-se num papel que ainda hoje é vanguarda no Brasil: a exportação de peças finalizadas com desenho e fabricação nacional em oposição à exportação de matérias-primas rompe uma lógica predatória no cenário internacional vigente desde os tempos coloniais. A exportação de mecanismos e de sua tecnologia, também conquistada pela empresa, avança um passo rumo à valorização do design brasileiro, e essa consciência retorna ao país na medida em que se opõe ao consumo acrítico de produtos estrangeiros.

 

   Esta publicação retrata ainda uma empresa muito mais presente no cotidiano nacional do que se imagina, tendo contribuído na paisagem urbana com objetos tão significativos como automóveis e equipamentos públicos, como as cabines telefônicas conhecidas como “orelhões”, e inclui os trabalhos de Percival para além da empresa, nas suas incursões em projetos de arquitetura. Não obstante, é a ampla retrospectiva visual dos móveis presente neste volume que efetivamente situa o fôlego da produção da Lafer. Nela, estão peças com os materiais habituais da empresa como a madeira e o aço combinados a estofados fartos em espuma injetada, e as criações em fibra de vidro. Estão também modelos pouco conhecidos, que fazem uso de acrílico e redes de pesca, ou voltados a campos específicos, como peças para uso médico. Ficam manifestas as formas em que a Lafer respondeu aos desejos do mercado em períodos distintos, as maneiras pelas quais se aproximou e se diferenciou de suas concorrentes e aliadas, e os caminhos em que evoluíram a partir do próprio repertório. Em sua abrangência, Percival Lafer torna-se essencial para colecionadores, estudiosos e curiosos do design e da cultura material brasileira.

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